Afirmar que lixo é riqueza dá a impressão equivocada de que a geração é benéfica. Na verdade, o que ocorre é que no lixo há materiais cujo ciclo de vida não foi esgotado, possibilitando assim a recuperação e o reaproveitamento dos mesmos. A afirmação também nos distancia da principal estratégia de gerenciamento, que é a não geração. Lixo bom é lixo não gerado. Reciclar, recuperar e tratar são estratégias de valorização, pois permitem a extração ou a transformação em algum componente que facilite a volta ao ciclo produtivo. É inegável que valorizar é essencial, pois eleva o status do lixo ao de resíduo. A reciclagem, apesar dos aspectos positivos, guarda um importante antagonismo - o estímulo ao consumo e a consequente geração de lixo. Ela dá a impressão de que podemos gerar à vontade, tendo em vista que os materiais serão recuperados. Na prática, isso nem sempre ocorre. Os índices de reciclagem no Brasil são baixíssimos. Isso significa dizer que a maioria acaba em aterros e, ainda pior, em lixões. Quais as causas deste índice baixo?
- a não separação dos resíduos no momento da geração (muitos consideram trabalhoso e/ou desnecessário separar);
- a ausência de coleta seletiva na maioria das cidades (Santa Maria está nesta lista);- a logística reversa que é empurrada com a barriga pelos fabricantes;
- a flexibilização do licenciamento dos empreendimentos;
- a fiscalização ineficiente e o desmonte dos órgãos responsáveis;
- o baixo retorno financeiro dos produtos reciclados devido a bitributação.
O vidro e o isopor são exemplos emblemáticos do abismo existente entre "ser reciclável" e "ir para a reciclagem". Apesar de serem recicláveis, acabam dispostos como rejeitos, permanecendo séculos no meio ambiente. O resíduo orgânico (restos de comida, cascas de fruta e verduras, pó de café, erva mate) apesar de se degradarem mais rapidamente, também impactam. Uma das formas para minimizar o problema é a geração de energia. O metano, ao lado do gás carbônico, é um dos principais responsáveis pelo aquecimento global. Gerar energia é uma forma de reduzir os efeitos sobre o clima do planeta. Santa Maria recebe o resíduo de 53 cidades gaúchas. Poucas separam adequadamente. A geração de energia a partir do gás de aterro é uma forma de minimizar o impacto causado pelo volume que aqui é disposto diariamente. Afirmar que o lixo recebido é fonte de riqueza está muito distante do que se deseja para uma cidade sustentável. As alternativas de valorização dos resíduos são importantes para mitigar os impactos ambientais provocados pelos mesmos, mas insuficientes para considerá-los como riqueza. O tratamento e a reciclagem reconfiguram o problema, não o eliminam. A eliminação se dá pelo consumo consciente, pela separação e destinação corretas, pela responsabilidade pós-consumo e por políticas públicas que incentivem, em primeiro lugar, as estratégias proativas e posteriormente, as reativas.